terça-feira, 15 de março de 2011

Cântico Negro, Adolescência e literatura futurista


00:15h. Um pouco tarde para escrever no blog, uma vez que tenho algumas obrigações a cumprir amanhã no período da manhã... isso não importa. A propósito, boa noite!

O motivo pelo qual venho a escrever resume-se em duas palavras: Cântico negro. Para quem não sabe, Cântico negro é um poema de José Régio, poeta nascido em 1901 e modernista, de segunda geração. Tal poema pertence a sua primeira obra poética: "Poemas de Deus e do Diabo".
"Cântico negro" apresenta característica tipicamente presencistas - segunda fase do modernismo - como dualidade, reflexão, rebeldia, introspecção, etc.
Agora, depois da nossa breve aula de literatura, posso falar o real motivo de escrever esse post.
Pode-se dizer que a adolescência é a fase mais conturbada da vida de uma pessoa. É uma época de decisões. escolhas, separação, rebeldia, e, principalmente, época de definir e conhecer quem você realmente é (introspecção). Ao ler Cântico Negro, conseguimos entender a situação do eu-lírico de uma forma assombrosa.
O narrador e o eu-lírico do poema são rebeldes: , deixam levar-se pela vida "... Ninguém me peça definições!/Ninguém me diga: "vem por aqui"!/A minha vida é um vendaval que se soltou..." perdidos em um verdadeiro turbilhão de emoções paradoxais! Quando adolescente, quem nunca passou por aquele momento onde tudo parece estar errado, mas depois certo, onde não sabemos o que fazer, onde queremos impor nossas vontades acima de tudo... A nossa vida é uma verdadeiro "Cântico Negro", cheia de dualidades, rebeldia, reflexão, tudo!
É incrível como muitas obras literais, sejam brasileiras, ou portuguesas, conseguem enxergar através de seu tempo, de forma a se tornarem situações repetitivas em diferentes contextos! Há passagens que parecem descrever nossas próprias reflexões do cotidiano!
Outro exemplo disso seria o poema "Marcha", de Clarice Lispector. Tal poema foi escrito em um contexto de ditadura militar, onde a liberdade de expressão era reprimida, e os autores utilizavam-se do subjetivismo como forma de expressar o que realmente se passava:

"(...) Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo,
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento..."

Veja como a passagem do poema encaixa-se ao contexto da ditadura. Porém, analisando em uma contexto atual, podemos adequá-lo à situação no Japão, após os desastres que ocorreram desde sexta feira (11). O desejo de que tudo acabe logo... a esperança coberta pelo medo, onde, por mais que a chance dos desaparecidos estarem vivos seja praticamente nula, todos ainda têm esperança... o horizonte trás consigo a morte, "cortando a vida".
Poemas de quase um século atrás encaixam-se em situações cotidianas, de forma a apresentar-se como uma literatura, ao meu ver, futurista.

By X. Ford

#PrayforJapan

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